Frei Paulo Eduardo Müller
Desde pequenos somos ensinados a associar Cristo e cruz. A cruz é o sinal do cristão. O cristão é aquele que segue Jesus Cristo. No sinal da cruz se invoca a presença do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E se confirma: Amém, ou seja, eu creio. A cruz tem dois traços: um horizontal e outro vertical. O horizontal liga o céu a terra (nós até Deus). O vertical nos lembra de que somos todos iguais como filhos e filhas de Deus.
Outras interpretações que são possíveis de serem feitas da cruz é que ela representa:
a) Um grande SINAL DE MAIS, fazendo-se referência a esta operação matemática;
b) Inclinando-a um pouquinho pode ser X(VEZES).
c) E ainda, no caso de uma dobradura, representar que devemos DIVIDIR todas as coisas que recebemos da bondade de Deus.
d) Ela nunca é MENOS. Deus sempre melhora a nossa vida.
Falando da cruz ainda, sabe-se que ao longo da história, ter que carregar a cruz pela cidade até o monte onde depois a pessoa seria crucificada, era uma das piores humilhações que alguém podia sofrer. A este tipo de crime eram condenadas pessoas perigosas para a sociedade. Malfeitores que incomodavam o bem estar público. Gente que merecia morrer. Neste sentido a cruz tem um sentido muito negativo. Cruz é sinal de dor, dificuldade, sofrimento e morte. Carregar a cruz é sinal de humilhação. Portanto, ao longo da história e ainda hoje, associa-se cruz com coisa negativa.
Cristo foi uma dessas pessoas que foi escolhida, pelo povo, e referendada pelos governantes de então, a sofrer este tipo de pena e de humilhação. Ele incomodava as autoridades da época, pois agia com autoridade. Libertava as pessoas dos seus sofrimentos. Ajudava quem estava na margem para tivesse dignidade. Questionava as autoridades religiosas preocupadas com regras e rituais muito mais do que com a vida das pessoas. Conhecia a realidade e os sofrimentos do povo e apresentava o projeto de Deus como sendo a saída para uma vida diferente.
Para a grande maioria dos cristãos a cruz de Cristo é mais importante do que o Cristo da cruz. Estes devem se inspirar no Salmista que diz: “Em vossa ira se consomem nossos dias, como um sopro se acabam nossos anos. Pode durar setenta anos nossa vida, os mais fortes talvez cheguem a oitenta; a maior parte é ilusão e sofrimento; passam depressa e também nós assim passamos” (Sl 89, 9-10). Dois fatos para ilustrar esta minha afirmação. Primeiro: muitos só se lembram de Deus na hora do sofrimento, da dor e/ou da morte. Segundo: por que será que na sexta-feira santa as Igrejas lotam, se faz silêncio e é um dia diferente? Será que ainda estamos mais presos a cruz de Cristo do que ao Cristo da cruz.
De São Francisco de Assis aprendem-se algumas coisas interessantes sobre a cruz, que eu gostaria de partilhar com vocês, a saber:
- Ele vê na cruz o sinal da Salvação.
b. Tem veneração pela cruz. Em todas as Igrejas que entrava, rezava: “Nós Vos adoramos, santíssimo Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as vossas Igrejas, que existem no mundo inteiro, e vos bendizemos porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.”
c. Acredita num Cristo de olhos abertos. A cruz de São Damião traz Jesus com os olhos abertos. Isto quer significar que Cristo é vencedor da morte e está vivo no meio de nós, ou seja, ressuscitou. A cruz tem importância, mas muito mais importante é o Cristo vivo e ressuscitado. E o seu Reino nunca mais terá fim.
d. Devemos acreditar no Cristo da cruz (muitos mais perceber as coisas positivas) do que ficar na cruz de Cristo (olhar o mundo como algo negativo e ruim.)
O Bom Deus quis que o Cristo vencesse a cruz para que nós também fôssemos libertos de todos os nossos erros, males e pecados e aprendamos a viver a Páscoa em cada dia da nossa vida. Basta que sejamos os anunciadores de um novo Reino e não sermos escravos do pecado.
FELIZ PÁSCOA!
